Coisas do antes e coisas do depois

Casámos eu com 26 e ele 27 anos.
O nosso primeiro ano de casados foi a loucura total.
Saíamos todas as semanas, jantaradas e festas, sozinhos ou acompanhados divertíamo-nos sempre. Tinhamos assunto para dar e vender e namorávamos onde calhava!
Lembro-me de pensar que quando tivesse filhos havia coisas que nunca faria, coisas que jamais permitiria.
Recordo-me da vida toda ouvir o meu pai dizer "filha, há coisas que não se aprende nos livros, temos que as viver".

Vieram os filhos e com eles a mudança em tudo na nossa vida (e a célebre frase do meu pai passou a assentar que nem uma luva!).
Há coisas comuns a todas as mães e a todos os pais depois dos filhos nascerem.

 Decidi partilhar algumas! Vejam se concordam...
 
©Deixamos de ter nome próprio.
Passamos a a ser "mães" para tudo... na escola, na natação, no rugby, nas consultas. A "mãe do J., a mãe do D.", a mãe, a mãe e a mãe.
 
©Os nossos maridos.
Os nossos maridos deixam de ser o amorzinho, ou o fofucho, ou o quiduxo ou o xuxu e passam a ser simplesmente o nosso outro, "pai."
 Passamos nos também a chamá-los assim e nem damos conta da "figura" que fazemos.

©Cinema? Não há.
Passamos a ver filmes sacados da net, aos bocados, um bocado ele um bocado eu porque adormecemos pelo meio e o mesmo filme é visto e revisto durante semanas até que quando chegamos ao fim, já não nos lembramos como começou.

©Jantar fora.
Ou os deixamos com a babysitter e vamos com hora de saída e hora de chegada (curta), ou os deixamos com os avós e ai ficamos com mais tempo para falar... deles.

©Namorar.
Passamos a namorar às escondidas. Deixamos o ímpeto do amor selvagem a qualquer hora e lugar lá no passado, e damos lugar ao (quase) dia e a hora marcado em modo aceleração não vá um acordar para fazer chichi ou o outro acordar porque simplesmente acorda sempre que não deve.

©Saltos altos.
Eu contínuo a contribuir para esta odisseia de usar saltos com duas criancas, mochilas, portátil, uma coluna feita num oito, duas escolas e horários a cumprir, mas estou certa que este Inverno irei aderir a moda de trocar de sapatos a porta do escritório porque isto de ser super modernaça, gira e de salto agulha era porreiro, mas com 25 anos.

©Praia sinónimo de descanso? 
É coisa que não acontece depois de sermos mães e pais.
Passamos o dia sentados ou de rabo para o ar, ficamos com o pescoco branco e sempre, mas sempre, um dos lados mais bronzeado que o outro. Há-de ser seguramente o vosso lado que dá mais jeito para dar a sopa, o iogurte, a sandes, o sumo, a água, o ovo, as salsichas, as uvas, o melão... Ufa.... Mudar a fralda, mudar os calções, mudar a T-shirt... fazer castelos...
O meu lado bronzeado é o direito. E o vosso?

©Ler uma revista.
Ler uma revista do príncipio ao fim é lembrança de um passado longínquo.
Passamos a ler "as gordas" e ficamos contentes assim!

©Refeição.
Ter uma refeicão de guardanapo no colo e sem interrupções é coisa para deitar um foguete (ou dois).

©Dormir?!
No meu caso, talvez daqui a 30 anos.
Agora não durmo porque são pequenos e acordam inúneras vezes, depois não dormirei porque serão adolescentes, andarão na noite e dormirão, sabe Deus onde.
(Serei sogra. Ui...sogra.  Uma sogra do pior tenho esse feeling).

©A casa.
Uma casa com crianças é uma casa com vida.
Há sempre carrinhos, migalhas, puzzles, bocados de bolacha, bonecos, pão (entre outras coisas mais que não vou referir aos mais sensíveis) espalhadas por todo o lado!
Uma casa assim é uma casa cheia... de tralha e de alma!

©
Desconfio que todas as mães já assoaram os filhos às mangas da camisa;
Desconfio que já perderam a conta às nódoas que levam pregadas na camisa branca logo pela fresca para o escritório;
Desconfio que há pais que quando saem de casa, já precisavam de outro banho;
Desconfio que ao se maquilharem de manhã já deixaram um olho por pintar e outro hiper mega giro;
 Desconfio que já trocaram a cor dos collants que deviam ser pretas e afinal eram azuis e que só deram conta mesmo à porta daquela reunião super importante;
Desconfio que todas as mães já sentiram que têm dupla personalidade e que quando estão de férias se sentem culpadas por deixar os filhos na escola;
Desconfio que todas as mães quando estão de férias vão super empolgadas buscar os filhos mais cedo e se arrependem 15 minutos depois;
Desconfio que somos todas feitas pela mesma forma;
Desconfio que não somos ET´s (embora por vezes possamos parecer);
Desconfio que não somos super mulheres ou super homens (apenas o somos aos olhos dos nossos filhos!);
Desconfio que todos partilham do mesmo sentimento que eu e que depois dos filhos nasceram passamos a ter capacidades que até então desconheciamos. Parece que passamos a ter tentáculos e os nossos braços e as nossas mãos vão a todo o lado.
Conseguimos fazer mil e uma tarefas ao mesmo tempo e - quase - todas bem.

O nosso mundo passa a girar de forma diferente (ao contrário diria eu).

Fazemos amizade com os pais dos amigos da escola, vamos juntos às festas deles, vivemos os gostos deles, adoramos as idas ao Oceanário (eu pessoalmente adoro), gostamos das idas ao Zoo ver o afilhado que o J. adoptou (um Tigre branco), vivemos as doenças que subitamente nos estragam os planos "daquele" fim-de-semana, mas passamos a ser muito mais ricos, muito mais felizes.
Eu assumo que sou muito mais feliz hoje do que quando tinha tempo para tudo e mais alguma coisa!

Quem não os pode ter, quem ainda não os tem, quem não os quer ter, pode sempre enriquecer o seu mundo e outra forma. Há mil e uma formas de sermos felizes. Com ou sem filhos.
As crianças apenas dão mais cor. Dão mais sentido à vida. Acho eu...


Afinal de contas e se não fossem os meus filhos, eu não estaria aqui a escrever estas coisas e vocês nao estariam desse lado a acenar com a cabeça em jeito de: "... é verdade, afinal não sou a(o) única(o) e não, não sou bipolar!".
 
Um beijo ©
M.
 
 

 

Share:

0 comentários