Porque não acontece só aos outros...

Com a saúde não se brinca e eu sou daquelas pessoas que não acha que só acontece aos outros.
Faço anualmente consultas de rotina com os devidos exames de diagnóstico que me permitem ter um ano ou uns meses mais “descansada”.
Há especialidades médicos que por inerência de algumas maleitas que já foram aparecendo, consulto duas vezes por ano (como é o caso da Ginecologia, Ortopedia e Dermatologia).
Esta última, visito em Abril e Dezembro. Sem excepção.
Vou à Dermatologista antes e depois do Verão, porque sendo eu um sinal pegado do pescoço para baixo e viciada em praia de Maio a Outubro, tenho plena consciência que os meus níveis de exposição solar são bastante elevados e assumidamente, nem sempre com a devida protecção.
Posto isto, na consulta de rotina a 28 de Dezembro recebi um “Alerta Vermelho”.
Um sinal com sinais visiveis de alteração, um sinal (muito) feio, um sinal (muito) alterado, um sinal com características de um Melanoma.
A minha médica não escondeu a precocupação e tentou marcar a cirurgia para o dia seguinte. Não conseguimos e ficou agendada, impreterivelmente, para o dia 6 de Janeiro.
A expressão facial da médica, a urgência na cirurgia, a calma e prudência com que me alertou do que podia ser e não ser, fez-me tremer as pernas naquele frente a frente paciente/médico.
Sou uma pessoa muito emocional numas coisas mas absolutamente objectiva e pragmática noutras.
Perguntei de imediato:
- Dr.ª, e se for? Quais os passos a seguir? Quimioterapia? Radioterapia? Imunoterapia?
- Vamos com calma, Rita. Uma coisa de cada vez.

No caminho do Hospital para casa (caminho em que fui em piloto automático porque não me lembro de nada) só pensava nos meus filhos. Nos meus pais. No Nuno. Nos meus amigos. No meu trabalho.
Nesse dia chorei de pavor. Chorei com medo de morrer. Chorei com medo de não estar cá para os meus filhos. Com medo de não os ver crescer.
Nesse dia veio-me mil vezes à cabeça uma conversa que tinha tido dias antes com uma amiga, em que falávamos que há cada vez mais casos de cancro em pessoas novas. Questionávamo-nos se caso nos calhasse a nós,  faríamos ou não tratamentos.
Recordo-me de pensar que se um tratamento me permitisse viver nem que fosse mais 1 minuto para ver os meus filhos crescer, faria sem hesitar.
Nesse dia, quando vi os meus filhos à porta da escola, olhei-os de forma diferente. O beijo soube-me a pouco e o abraço senti-o como se fosse a primeira vez.
Entrei em 2017 com os dois pés bem assentes na terra. O primeiro desejo à meia noite foi com pedidos de saúde e que isto não passasse (apenas) de um grande aviso.
Nestas 3 semanas, desliguei do assunto para não dar em doida!
Tentei pensar o menos possível na possibilidade tão ténue, tão entre a espada e a parede entre um “sim, tens cancro ou não, não tens cancro (por enquanto)”.
Nestas semanas pensei muito em todos os disparates que fiz ao longo da vida. Nunca me culpei por ter apanhado sol em excesso. Nunca me culpei pelas horas a fio na praia. Nunca me culpei porque caso isso acontecesse, morreria consumida pela culpa e eu precisaria da minha energia concentrado num outro campo muito mais importante.
O resultado chegou e com ele a boa notícia!
Não é um melanoma mas caminhava a passos largos para ser.
Se não tivesse o cuidado de vigiar de perto, seguramente seria um muito em breve.
Depois do susto, há que pensar no futuro.
Nunca mais serei a mesma pessoa na praia. Nunca mais serei desleixada só porque já estou bronzeada e não preciso pôr (tanto) protector solar.
Nunca mais me permitirei apanhar um escaldão.
Continuarei a ser obcecada com a protecção solar nos meus filhos - sem excepção -  de 2 em 2 horas.
Gosto assumidamente, de sol, mar e praia.
Não vivo sem a energia que o sol me transmite, o quente da areia, a luz que me penetra o olhar, o calor que me aquece a alma.
Estou desejosa que chegue o Verão e com ele os dias de praia que tanto gostamos.
Garantidamente, quando pisar a praia este ano a minha perspectiva será diferente.
Quero estar cá para usufruir dela #atévelhinha. 
Quero (entre tantas outras coisas) levar os meus filhos à Euro Disney, quero levá-los a conhecer Taizé, quero conhecer o Rio de Janeiro, quero escrever um livro, quero namorar, quero voltar a Praga, quero viver!! Viver!
Para isso, todo o cuidado é pouco.
O meu conselho a todos vós... Não se descuidem!
Um segundo basta para tudo mudar na nossa vida.
Não se ponham a jeito!

Um beijo
M

Foto antiga (Ilha do Pessegueiro - Porto Covo)
Créditos: Pai




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