Há um ano...
Créditos: Pai 25 de Fevereiro de 2016 Hospita CUF Descobertas - Lisboa |
Há um ano estávamos aqui nesta
casa que nos recebe sempre bem.
A operação, aquela operação que
sabíamos que tinha que acontecer desde o dia em que o Duarte nasceu.
Há um ano muitos mostraram
preocupação, muitos me perguntaram a que é que tinha sido operado, sem que a
minha resposta fosse objectiva.
Numa dessas mensagens, uma querida
leitora perguntou-me porque não partilhei a que é que o Duarte foi operado.
Dizia que que se percebeu claramente que foi uma operação complexa, mas que não
se conseguia ler nas entrelinhas o motivo da mesma.
Seria aos ouvidos?!
Expliquei - lhe na altura e explico
agora o porquê de não ter partilhado.
Este blogue não é nem será um blogue
de massas, super badalado e conhecido. Este é um diário que criei sem
expectativa, sem intenção de o fazer ser cobiçado ou falado.
Escarrapachar (desculpem a expressão!) aqui o motivo que levou o meu filho a uma sala de operações, poderia ser interpretado como aproveitamento ou abusivo.
Este blogue é meu e apesar dos meus filhos fazerem parte dele tal como da minha história, o que publico é responsabilidade minha.
Escarrapachar (desculpem a expressão!) aqui o motivo que levou o meu filho a uma sala de operações, poderia ser interpretado como aproveitamento ou abusivo.
Este blogue é meu e apesar dos meus filhos fazerem parte dele tal como da minha história, o que publico é responsabilidade minha.
A leitora dizia – me (e bem) que o
problema dele pode ajudar outros pais e é isso que as pessoas procuram nos
blogues. As pessoas procuram identificação com as histórias!
Compreendo, mas também estou certa que
compreenderão que o Duarte um dia poderá não gostar de ler que partilhei,
detalhadamente, algo tão delicado e tão íntimo.
Não pretendo detalhar a operação, mas
pretendo deixar-vos hoje, um ano depois, a minha visão de mãe daqueles dias.
Quando o Duarte
nasceu ficámos a saber que tinha a uretra curta e descaída e que teria que ser
submetido a uma intervenção cirúrgica aos 2 anos (mais coisa menos coisa).
Durante 2 anos
preparámo-nos psicologicamente.
Quando começou o
desfralde, tomámos consciência que a operação tinha que chegar depressa porque o
facto de não conseguir fazer chichi como os outros meninos, estava a limitá-lo
e começávamos a sentir alguma instabilidade sempre que se falava no bacio.
25 de Fevereiro
de 2016, 2 anos e meio depois, chegou o dia “D”!
A operação foi
difícil. Longas horas. Intermináveis horas.
Correu tudo bem,
mas o pós operatório foi absolutamente horrível (não vou mentir nem florear).
Foram 3 dias de
internamento. Muitos fios. Muitas dores. A algália que levámos para casa. Um
mês de recuperação.
Nunca escrevi
sobre os dias de internamento...
O Duarte foi um
herói. Portou-se como um crescido (como de resto é comum nas crianças).
A primeira noite passei-a –
literalmente - a olhar para ele. Não preguei olho com medo que se enrolasse nos
fios e arrancasse o catéter.
Esteve sempre bem disposto até tirar o
catéter de epidural.
Sei de cor cada centímetro de parede
daqueles corredores do piso 4 da Cuf Descobertas... na 2ª noite, ás 05h00 da
manhã (após 6 horas com ele ao colo) e já sem forças, a enfermeira A (uma das
maravilhosas enfermeiras que me ajudaram, aconselharam, acalmaram...) pegou no
Duarte e disse-me:
-“ mãe, vá descansar. Ele fica aqui
comigo. Alguma coisa, chamo-a”.
Calcei umas botas, vesti um casaco
quente e desci o elevador com um "pai", que estava com pior aspeto
que eu.
Acendi um cigarro e chorei, chorei,
chorei...
Não estava triste ou sem as
forças que nunca perdi, estava perdida. Cansada. Dormente.
O senhor que desceu no elevador nunca
falou comigo. Apenas me deu um toque no braço em jeito de "estamos
juntos".
Chovia a potes e estava um frio de
rachar.
Subi, dormi meia hora. Ele
acordou.
Começou o novo dia e a partir daqui
foi sempre a melhorar.
Chegámos a casa, levámos connosco a
algália e aqui residiu o grande desafio! Manter o Duarte o mais tranquilo
possível sem saltos e turbulências para que a algália não saísse do sítio e não
provocasse o regresso ao hospital.
Tudo correu bem e um mês depois
voltámos todos à rotina.
A partir daqui tudo melhorou. O
desfralde foi rapídissimo.
O Duarte cresceu. Eu envelheci. Faz
parte.
Esta história não termina
aqui...
Daqui a 2 anos teremos nova cirurgia e
aos 12 anos a última.
O Duarte tem uma bela história
para contar aos filhos e eu spero estar cá para o ajudar com todos os
pormenores que me estão cravados na memória!
Obrigada a todos que, há um ano,
nos deram força e ajudaram a superar os dias difíceis.
Foram uma excelente
companhia!!
Um beijo
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