Duarte e os seus Super Poderes!

Fotografia | Isabel Saldanha Fotografia

Há muito que sabíamos que isto poderia acontecer (podem ler a história toda aqui).
Quando aos 15 meses foi considerado “ouvinte” eu, bem lá no no fundo, sabia que não seria definitivo. Uma mãe sabe. Uma mãe sente. Estas coisas não se explicam e apesar de na altura ter ficado aliviada pelo tormento vivido durante 15 meses, a verdade é que eu sentia que "um dia" alguma coisa podia acontecer.
Aos 3 anos começaram os primeiros sinais efectivos de perda auditiva. Virava a cabeça sem percepção do som, sentia-o perdido sem noção espacial, o permanente “Hã?” "o quê, mamã?" sempre que, de longe ou de lado, lhe fazíamos alguma questão. 
Cedo percebi que me lia os lábios. Cedo percebi o esforço que fazia para processar a informação. 
Sem se aperceber, o Duarte foi encontrando formas de comunicar (e ouvir) sem que isso o impedisse de crescer, falar e aprender ao ritmo dele (maravilhoso não é?).
Perante as evidências, regressámos ao maravilhoso Otorrino, o Dr. Magia :) - especialista em surdez infantil - que o segue desde os 8 meses.
Exames feitos, exames repetidos, novas opiniões, resultados na mão. Um ouvido esquerdo praticamente a zero e ouvido um direito a compensar.
Deixámos, por indicação médica, passar o período do Verão e do Natal. 
Deixámo-lo crescer mais um bocadinho. Deixámo-lo viver sem a preocupação e responsabilidade, sem os aparelhos auditivos que o acompanharão nos próximos anos (porque dizer pela vida fora é demasiado forte e a Medicina evolui tanto que, quem sabe, daqui a uns anos já nem precisará deles).
A decisão de pôr ou não pôr ficou do nosso lado.
A decisão que nunca me (nos) impediu de ver com clareza o que a maternidade às vezes camufla.
O Duarte não ouve bem assim como o há meninos que usam óculos para ver melhor.
É igual (ou deveria ser), apesar de socialmente sabermos que não é aceite da mesma forma.
Têm-me perguntado como é lidar com esta situação. Como é lidar com o facto de ter que pôr aparelhos auditivos a um filho por estar a ficar surdo!
Respondo apenas que sou Mãe e que sinto tal e qual as outras mães sentem!! 
Não sou insensível. Custa! Ninguém pensa que pode acontecer nem ninguém quer que aconteça!
O Duarte é um menino muito feliz e será ainda mais se tiver mais qualidade de vida e portanto como pais não hesitámos em fazer tudo o que está ao nosso alcance para o ver bem.
Avançámos com os aparelhos auditivos (com os Super Poderes como diz o Duarte!).
Ele escolheu um encarnado e outro azul da cor do Homem Aranha e do Capitão América, é nós adorámos a ideia de fazer disto uma coisa divertida!
Fazer desta nova rotina uma coisa boa que o fará sentir-se melhor, menos cansado ao final do dia (imaginam o esforço tremendo que tinha que fazer no dia a dia para estar à altura das exigências?? Bolas, é um campeão!!), mais confiante na escola, mais confiante perante as adversidades.
Anda todo orgulhoso dos seus "super poderes” que o fazem ouvir tudo na sala de aula, sem ruídos, sem interferências, sem receio de não ter percebido bem.
Todo um mundo de novas emoções a ser vivido aos 4 anos. 
 A descoberta de novas sensações. Toda a magia reflectida no olhar.
A expressão facial dele no momento em que os aparelhos auditivos foram ligados, foi indescritível e impagável.... A expressão de espanto, os olhos muito abertos, o sorriso de orelha a orelha... foi absolutamente emocionante!!
Naquele momento - no exato momento! -  tive a certeza...
Tomámos a decisão certa.
 Obrigada do fundo do  a todos os que desse lado me (nos) deram força. A todos os que não sabendo o que se passava nos foram dando confiança que tudo correria bem.
E está! Tudo a correr tudo bem!
É - hoje - um menino ainda mais feliz (e já era de sobra!)
Um beijo
M.

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