A (não) maternidade

Farto-me de falar nos meus filhos, escrevo por eles e para eles, falo das coisas deles, do meu dia-a-dia difícil, do cansaço tremendo que sinto, do quanto me arrelio com eles e do quanto me apetece um momento de silêncio, mas muitas vezes me esqueço que há tantas mulheres e tantos homens que gostariam de ter o dobro ou o triplo do meu trabalho de mãe, homens e mulheres que queriam tanto ter filhos e não os podem ter, ou outros que como não se fala no assunto, ficamos sem saber se é tabu ou apenas uma forma de estar na vida.


Quando escrevi o post Coisas do antes e coisas do depois não tinha a mínimo noção do impacto que iria ter, não fazia ideia que as pessoas se iriam identificar tanto com o que escrevi (e tanto que ficou por dizer), mas dei por mim a pensar que não é justo, que as pessoas quer não têm filhos também se cansam, também têm trabalho, não vivem felizes e contentes porque veêm um filme no cinema do príncipio ao fim, nem são mais ricos por estar deitados ao sol uma tarde inteira.
As pessoas que querem filhos e não os podem ter, sofrem com estas coisas que se escrevem como se só os pais de filhos tivessem direito a estar cansados!
Estes casais têm que se reinventar, têm que aprender a viver com o vazio, criar anticorpos e a impermeabilidade necessária para viver nesta sociedade que é, por vezes, tão crítica e tão cruel relativamente a este assunto.

Por outro lado, os casais que optam por não ter filhos dizem-se muito mais felizes.
Os casais têm mais tempo um para o outro, responsabilidades financeiras mais baixas e uma gestão mais previsível das poupanças.
Não ter filhos é também uma opção de vida!
 
Sei dar um bocadinho de valor aos casais que querem e não conseguem, porque eu tive dificuldade em engravidar do J.!
Foram meses de angústia, foram meses em que aquele "dia" era um dia triste, de desmotivação e de algum desespero.
Demorei 1 ano mas consegui, e recordo-me como se fosse hoje de dar a notícia a uma amiga que não conseguia engravidar e de ver a desilusão na sua cara, a felicidade por mim, mas a tristeza por não ser ela.
Ainda hoje não os tem. Nem sei se os quer ter porque não voltámos a falar sobre o assunto, mas quero com este post dizer aos amigos, conhecidos e desconhecidos que me lêem, que tentem encontrar outras formas de ser felizes. Que o amor dos nossos filhos é de facto maravilhoso e insubstituível, mas há outras formas de amor igualmente reconfortantes.
Não sou ninguém para falar em adopção, não tenho o direito de julgar decisões e cada um sabe de si, mas sei o que faria se não tivesse filhos biológicos.
Sei que seria capaz de amar um filho de coração como amo os meus filhos biológicos. Sem tirar nem pôr.

Um beijo
M


 
 

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