A miúda dos 16 anos...

Fotografia | Santarém, 20 de Junho de 2019




Os meus pais fizeram-me uma surpresa e deram “vida” à minha companheira de aventuras nos anos 90... A minha BWS preta de rodas todo-o-terreno!
Foi o presente de aniversário quando fiz 16 anos e ontem, 23 anos depois, voltei a 1996 e aos anos de ouro de uma adulta em construção.
Nunca a quis vender porque achei sempre que um dia ía voltar a andar nela...
Nunca como ontem tanta coisa me tinha vindo à memória!
Ontem senti-me a miúda dos 16 anos, ribatejana de gema, o mesmo blusão de ganga (sim, o mesmo!), cabelos ao vento, a miúda que sacava cavalos e que conduzia, sempre que as descidas permitiam, com os joelhos e mãos nos bolsos desafiando todas as leis e confiante que nunca ficaria sem dentes😍.
A miúda que adorava música; que ouvia Eagles, Gipsy Kings, Supertramp, Phill Collins, Joe Dassin (se alguém souber quem é, ponha o dedo no ar!) Gal Costa, Rick Astley, que chorava ao som de Bryan Adams, que tinha todos os discos dos Onda Choc, que era a fã nº 1 das Bananarama e das Wilson Phillips, que tinha cassetes VHS da Kim Wilde e da Kyllie Minogue, que não estudava sem ser a ouvir música, e que ouvia em repeat as vezes que a vontade lhe desse a música preferida: Nowhere Fast (streets of fire) dos Fire Inc!
A miúda que todos os dias escrevia cartas que entregava às amigas e que algumas retribuíam; não quebrando o ciclo.
A miúda loira com mau feitio, com amigos que tinha a certeza que seriam para a vida, uma aluna média, consciente, responsável, uma miúda que fez coisas de que não se orgulha, mas que a fizeram ser uma adulta melhor. A miúda não consensual, nariz empinado, mas empática e simpática.
A miúda apaixonada, que dançava Sevilhanas, que vivia a vida com o coração feliz aos pulos num trampolim, a miúda que tinha em si todos os sonhos do mundo.
A miúda que devorou os livro "Amor de Perdição" de Camilo Castelo Branco e "Os Maias" de Eça de Queirós, e ainda hoje são duas das suas obras de eleição.
A miúda que, no pico de calor de Santarém, tomava banho de balde na varanda e apanhava sol como se estivesse nas Caraíbas.
A miúda que ia para o Q.B em Almeirim, para a Horta da Fonte no Cartaxo e que nada a demovia do que queria muito.
A miúda que aos 16 anos sonhava ser Psicóloga, fazer voluntariado em África, ser independente, casar e ser mãe.
A mota deu à miúda que vejo lá atrás, a liberdade controlada que precisava para crescer, deu-lhe a confiança dos pais (tão importante naquela altura de construção), a responsabilização, a noção que nada se tem sem esforço, a possibilidade de viver a felicidade de andar sobre rodas, viver a adrenalina do improviso; sem nunca fugir do risco.
Olho para ela e digo-lhe hoje com toda a certeza do mundo:

"Eras tão gira e tão feliz, miúda!
 Só não sabias quanto!!"

Obrigada aos meus pais por este miminho aos 39 anos.
Fiquei feliz como no dia em que fiz 16 anos, que dei pulos de contente quando vi a chave da minha mota, que vibrei com a surpresa na garagem, que senti uma adrenalina sem fim, que agradeci o esforço que fizeram para me dar aquela alegria, que sou eternamente grata pelos pais maravilhosos que me calharam em sorte.
Obrigada!!! Obrigada!! Obrigada!!
Um beijo no coração,
Rita 
Fotografia | Santarém, 20 de Junho de 2019

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