Andas longe... não partilhas nada... não escreves!
"Andas longe... não partilhas nada... não escreves."
É o que me dizem ultimamente.
A verdade é que com este mundo virado do avesso ando
a reboque dele e com um relógio a passar depressa demais.
Conformada que nada será como antes e claramente mais realista e menos sonhadora.
Preocupam-me os mais novos que se estão a habituar a viver longe de afectos, de abraços, de toque, de beijos, de proximidade e os mais velhos para quem não é apenas mais um dia mas menos um dia de vida!
Preocupam-me as marcas que tudo isto deixará em nós.
Em Março, quando viemos para casa, achávamos (tolos)
que seriam apenas uns dias... viemos com a esperança nos dias a ganhar vida, do
sol, do nascer da flor... entrámos em casa ainda não era Primavera e saímos já
era Verão... assim, num piscar de olhos.
Vivemos um Verão cheio de esperança.
Enchemo-nos de sol, de praia, de passeios ao ar livre
e aproveitámos com a sabedoria dos últimos meses.
Arrisco dizer que nunca um Verão me encheu tanto as
medidas e ao mesmo tempo me deu uma sensação tão grande de vazio. Cada banho de
mar e cada dia de sol na cara me fazia sentir que tinha que o viver porque a qualquer momento podíamos
voltar para reclusão domiciliária.
A Televida deu lugar ao regresso às aulas, o regresso ao trabalho no escritório, o regresso lento a uma normalidade anormal, que me soube bem voltar a ter... mas todos sabíamos que isto ia voltar a acontecer. Todos sabíamos... mas ninguém quis acreditar verdadeiramente nesta possibilidade.
Voltámos parcialmente a casa: Teletrabalho a 100%.
Miúdos na escola. Televida em acção novamente.
O problema agora, é que já sabemos ao que vamos. Sabemos que não serão 15 dias e que o Bicho não se se vai embora assim.
Confinamentos parciais, recolhimento... tudo o que, concordemos ou não, temos que fazer para tentar travar esta avalanche.
Sabemos que o Natal está em risco, sabemos que
serão meses disto ainda e com um Inverno à porta, sem sol, sem alma quente, sem flores
a nascer, com dias cinzentos e pequenos que nos fazem sentir uma migalha neste
mundo virado do avesso.
Sinto-me perdida. Sei o que me compete fazer mas também sei que vamos perder muito pelo caminho e já perdemos tanto!
É por um bem maior? Óbvio que sim, mas o estrago
emocional só o vamos ver daqui a uns tempos.
Ando triste. Ando cansada. Ando assustada mas conformada e confiante que tudo isto acalmará e que daqui a muitos anos
olharemos para trás, de mão dada, e diremos:
"Em 2020 entrámos com os pés assentes na terra,
felizes e com esperança num ano incrível, mas calhou-nos a experiência de viver num mundo virado do avesso e que nos mudou a todos... para sempre".
Um beijo no coração!
Rita
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