A (in) gratidão da maternidade












A semana passada, houve um dia que me passei completamente.
No cansaço do dia-a-dia, da rotina, deste frio que persiste e nos gela os ossos, dos dias que nunca mais crescem, da loucura do trânsito, das birras, tenho momentos de profunda exaustão. Momentos em que me passo e me apetece sair porta fora.

Eram 8h20 da manhã, estavámos todos atrasados e o João já tinha dito "não" umas 500 vezes porque o "não" está-lhe sempre na ponta da língua.
É não para tudo... para ir para a mesa, para lavar os dentes, para tomar banho, para se vestir, pentear, calçar os ténis...
Gosta especialmente do "não" de manhã quando estou sempre, sempre, mas sempre (já disse sempre?!) atrasada. Até me podia levantar às 6h00 da manhã que o efeito seria igual. 
O João é como eu. Detesta acordar de rompante, não gosta de pressas nem tão pouco de comer assim que acorda, mas com tantos entraves pela manhã, acaba a fazer tudo aquilo que detesta e que, posteriormente, gera conflito (e gritos) entre nós.

Teimou que o bibe que tinha vestido não era o que tinha levado para a escola no dia anterior.
Entre argumentos com o pai, eu disse: "estou com uma quebra de tensão" e debruçei-me sobre a cama do Duarte. 
O Duarte veio para o pé das minhas pernas trémulas gritar "mãaaaeeeee"... mãaaaeeeee" enquanto este "mãaaeeee" me furava os tímpados (a zumbir naquela altura)...
Recompus-me e passei-me completamente! Dei em gritar! Será que ninguém me ouviu dizer que estava a segundos de cair para o lado?! Será que só sirvo para fazer favores?! 
Agarrei-o pelo braço e mostrei-lhe que o bibe de que falava estava lavado, lindo e maravilhoso, passado a ferro na gaveta da cómoda. Gritei com ele! Gritei muito! Barafustei, mandei-os embora... 
Fui para o banho, chorei desalmadamente, lavei a alma e fui trabalhar.

Fazemos tudo pelos filhos, anulamo-nos muitas vezes como mulheres e homens em prol desta profissão de Mãe e Pai e os filhos não nos reconhecem qualquer esforço.
Isto faz parte, eu sei...também sei que só quando passarem por "ela" vão dar valor, mas bolas... isto custa... isto dói... por vezes a maternidade é lixada.

Ser mãe é maravilhoso, estou grata pelo dom da maternidade, mas é também extenuante, desgastante, ingrato (muito ingrato por vezes) e desenganem-se... não existem mães perfeitas, nem famílias perfeitas.

O João foi para a escola de lágrimas nos olhos e eu passei o dia todo com essa imagem na cabeça.
Ele é uma criança com 6 anos, tem que ser educado no melhor sentido, mas eu tenho que ter mais calma, tenho que ser mais paciente. 

Ao final do dia abraçamo-nos, pedimos desculpa um ao outro e e foi como se nada fosse.

É isto que as mães fazem...
Isto é ser Mãe.

Um beijo
M.

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